domingo, 4 de janeiro de 2009

O Virgem Negra

Põe-me as mãos no sexo,
Beija-me na coxa,
Abre-me no plexo,
Uma ferida roxa.

Eu não sei porquê,
Meu dês d'onde venho,
Sou o ser que vê
Só seu tamanho.

Põe a tua mão
Num laço sem fim,
E chega ao desvão,
Abre-o para mim.

...

É importante foder (ou não foder)?
É evidente que não, não é importante.
Fode quem fode e não fode quem não quer.
Com isso ninguém tem nada
Mas mesmo nada
A ver.

O que um tanto me tolhe é não poder confiar
Numa coisa que estica e depois encolhe,
Uma coisa que é mole e se pôe a endurar e
A dilatar a dilatar
Até não se poder nem deixar nada
Para depois se sumir
E dar vontade de rir e d'ir urinar.

Isso eu o quiz naquele verso louco que tenho ao pé:
"O amor é um sono que chega para o pouco ser que se é"
Verso que, como sempre, terá ficado por perceber ( por
mim até).

Dorme, filha, dorme,
Vaga em teu sorrir.
Sonho-te tão bem
Que o corpo me vem
E me venho sem ir

...

Pinar só co' a cabeça
É protérrima noção
Ca literatura começa
Ter muita aceitação.


Entada a tola entra tudo: taco
Tórax e veio.
Se não couber no buraco
Racha-te o bruaco ao meio.

-Nem rachar será preciso
Só rasgar um bocadinho
Como na árvore, inciso
O nome do passarinho

O Virgem Negra, Fernando Pessoa, explicação às criancinhas naturais e estrangeiras por M. C. V., Mário Césariny, Assirio &Alvim.

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